Na altura, Deolinda Nunes era responsável pela fábrica da Nestlé em Avanca, no concelho de Estarreja. Foi nesse contexto que recebeu o convite para participar na entrega de um prémio de mérito escolar, uma iniciativa patrocinada pela empresa em colaboração com o Rotary Club local. “Nunca tinha ouvido falar de Rotary”, recorda, “mas desde o primeiro momento gostei do que ouvi e vi.” A experiência repetiu-se nos anos seguintes e o entusiasmo cresceu. As histórias de serviço à comunidade, os valores partilhados e a amizade genuína entre os companheiros marcaram-na profundamente.
O passo seguinte foi natural. Tornou-se associada do Rotary Club de São João da Madeira, a cidade onde residia. A atração pelos ideais rotários foi imediata: os valores, as causas, o compromisso com a construção de um mundo melhor, tudo isto refletia a sua visão de cidadania ativa e responsável. Nascida e criada em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo), Deolinda cresceu num ambiente multicultural, onde a diversidade era vivida naturalmente. “Na escola, a colega da carteira ao lado podia ser indiana, negra, chinesa ou branca. Brincávamos juntas, partilhávamos histórias e ninguém se admirava com nada. Apenas aceitávamos, aprendíamos e ríamos como crianças que éramos.”
Após mudar-se para Portugal, para frequentar a Universidade do Porto, concluiu a licenciatura em engenharia química na Faculdade de Engenharia, decidida a trabalhar na indústria alimentar. O início da sua carreira decorreu no controlo de qualidade, uma área tradicionalmente ocupada por mulheres na época. No entanto, rapidamente assumiu funções de maior responsabilidade, marcando uma presença firme num mundo industrial dominado por homens. Um episódio “divertido e marcante”, aconteceu no seu primeiro dia como diretora de uma fábrica com 350 trabalhadores, dos quais 85% eram homens: “Um dos funcionários, já com alguma idade, recebeu-me com um sorriso e disse: ‘Não me incomoda nada ter uma mulher como diretora, já estou habituado: lá em casa quem manda é a minha mulher!’”
Ao longo de décadas, Deolinda consolidou uma carreira de sucesso na Nestlé, onde viria também a assumir a responsabilidade pela Comunicação Corporativa e pelas Relações Institucionais. Para além da formação inicial em engenharia, completou uma pós-graduação em gestão no IMD, em Lausanne, e uma Formação Avançada em Comunicação. Nas várias empresas onde trabalhou, pôde observar de perto os desafios das mulheres que equilibram o papel de mães, profissionais e pilares familiares, e reconheceu a importância de garantir a igualdade de oportunidades, independentemente do género.
“Quero que os meus filhos e os meus netos possam viver num mundo melhor, num mundo onde as pessoas se unem e entram em ação para causar mudanças duradouras em si mesmas, nas suas comunidades e em todo o mundo.”
A sua experiência como rotária tem sido igualmente marcada pela entrega e pelo entusiasmo. Encontrou em Rotary um espaço para crescer, servir e inspirar. “Servir como Governadora é para mim a oportunidade de colocar ao serviço do Rotary tudo o que aprendi com a minha vivência profissional e pessoal”, afirma.
Para Deolinda Nunes, este novo desafio é também um legado para as futuras gerações. “Quero que os meus filhos e os meus netos possam viver num mundo melhor, num mundo onde as pessoas se unem e entram em ação para causar mudanças duradouras em si mesmas, nas suas comunidades e em todo o mundo.”
Neste novo ciclo, o Distrito 1970 ganha uma Governadora profundamente consciente do papel transformador de Rotary. Uma líder que conhece a força da inclusão, da ética, da dedicação e do serviço. Alguém que vê no Rotary não apenas uma missão, mas uma forma de estar na vida.
No dia 1 deste mês, Deolinda Nunes inicia o seu mandato como Governadora do Distrito 1970 do Rotary International, trazendo consigo um percurso profissional e pessoal profundamente alinhado com os valores rotários.
Não planeava esta ligação com o Rotary, mas, como tantas vezes acontece nos momentos transformadores da vida, foi através de um acaso que tudo começou.