Na curta distância entre o seu gabinete improvisado no BMO Centre, em Calgary, Canadá, e uma esplanada exterior, Francesco Arezzo é interrompido mais de uma dúzia de vezes por rotários que o querem saudar. Com um sorriso caloroso, o italiano agradece a dois oficiais de protocolo da Índia, abraça um ex-diretor de Rotary International e tira uma selfie com rotários da Coreia.
É véspera da Convenção Internacional do Rotary, e Arezzo e a esposa, Anna Maria Arezzo-Criscione, estão no centro das atenções. Apenas uma semana antes, Arezzo, sócio do Rotary Club de Ragusa (Sicília, Itália), fora nomeado presidente de RI para 2025-26, após a inesperada renúncia de Mário César Martins de Camargo por motivos pessoais e profissionais. A decisão foi tomada numa reunião extraordinária do Conselho Diretor do Rotary International.
Arezzo estava com amigos rotários na conferência distrital quando recebeu a notícia. Como ainda era confidencial, não a podia partilhar. “Quando apareceu nas redes sociais, eram 23h e estávamos no jantar de gala”, recorda. “Pode imaginar 400 rotários a descobrir ao mesmo tempo. De repente, todos formaram fila para me beijar e felicitar. Foi inesquecível.”
Dois dias depois, estava a embarcar para o Canadá, onde foi apresentado perante os 16 mil participantes da Convenção Internacional. “Nem tive tempo para cortar o cabelo”, brinca, apontando para a sua farta cabeleira grisalha. Apesar do pouco tempo para se preparar, Arezzo sentia-se pronto. Com mais de 30 anos de vida rotária, foi diretor de Rotary International e presidente da comissão da Convenção de Melbourne (2023), entre outros cargos. Candidatara-se à presidência em 2023 e chegara a ser pré-selecionado.
A sua humildade, as histórias pessoais comoventes e o discurso direto e poderoso emocionaram os presentes, que lhe prestaram uma ovação de pé.
Durante a convenção, a revista Rotary conversou com Arezzo em diversos momentos, nos corredores, num pequeno autocarro a caminho de um evento, ou no seu gabinete improvisado.
Tem duas filhas e dois netos com nomes familiares.
O mais velho, de três anos, chama-se Francesco. A mais nova, com um ano, tem o nome da minha esposa, Anna Maria. Adoro brincar com eles na sala. Ficam tão felizes comigo que não me largam quando me vou embora. Claro que me custa deixá-los, mas tive de escolher: ou recusava ser presidente, ou aceitava afastar-me temporariamente. É só por um ano. Estou disposto a este pequeno sacrifício. O Rotary precisava e eu estou pronto. Sinto-me um privilegiado por esta oportunidade.
A ortodontia é mais do que tratar dentes.
Sou ortodontista há 46 anos. Trabalho sobretudo com jovens. É essencial compreendê-los antes de tratar – sem empatia, não há colaboração. Às vezes sei mais sobre eles do que os próprios pais. Essa ligação profunda é o início de um bom tratamento.”
A sua família produz azeite há mais de um século.
Temo ser o último. As minhas filhas não têm interesse. Um bom azeite tem de ser picante, amargo, com acidez inferior a 1%. Para isso, colhem-se as azeitonas cedo – menos quantidade, mas mais qualidade. A paixão é o segredo.
Não queria ser presidente do clube.
Gaguejava e tinha pavor de falar em público. Mas aceitei. Depois convidaram-me para governador. Também hesitei, mas fui convencido. Rotary transformou-me. Se um jovem profissional com medo de se expor consegue agora falar em palco, noutra língua, perante milhares, é graças aos rotários que me apoiaram.
Acredita que os presidentes de clube são essenciais.
Temos de melhorar a comunicação com os presidentes, que estão na linha da frente. Formamos bem os governadores, mas muitos presidentes falam com eles apenas duas ou três vezes por ano. Muitos não percebem a importância das metas de crescimento.
Uma das suas prioridades é a construção da paz.
Organizei um RYLA com jovens de Itália, França, Espanha, Norte de África, Grécia e Turquia. Os italianos e turcos desconfiavam uns dos outros. Mas ao fim de dias, descobriram sonhos comuns. No último dia, cantaram o ‘Imagine’ e apresentaram uma peça sobre as diferenças culturais. Foi lindo. Com as bolsas, os intercâmbios e os Centros Rotary pela Paz, somos uma verdadeira máquina da paz – e o mundo precisa dela.
É apaixonado por ópera desde criança.
Na minha casa sempre se ouviu ópera. Em Ragusa não havia teatro lírico, mas em Pádua, onde estudei, comecei a ir a Veneza. Bellini, de Catânia, é um dos meus favoritos. Morreu muito jovem, mas deixou óperas maravilhosas como ‘Norma’ ou ‘Os Capuletos e os Montéquios’. Gosto também de Puccini, Verdi, Mozart… É difícil escolher.
Tem planos para compensar o início tardio.
Normalmente, o presidente tem um ano para estudar, outro para planear e o terceiro para agir. Eu não tive isso. Mas espero trabalhar de perto com o próximo presidente do Rotary International. Podemos fazer um plano a dois anos eficaz. Rotary não muda de rumo como uma trotinete. É um navio de cruzeiro. É preciso preparar a viragem com antecedência.
Acredita que Rotary é um verbo de ação.
Digo sempre: mudem os verbos que usam. Não se ‘vai ao’ Rotary como se vai ao cinema. Rotary é algo que se faz. É preciso participar. E só então começamos a crescer.