“Circle The Atlantic”, uma viagem pela erradicação da Pólio

Peter Teahen e Ed Galkin aterraram no aeródromo de Tires, em Cascais, a 19 de setembro, onde foram recebidos por representantes do Município, voando de seguida para ao Museu do Ar, em Sintra (Base Aérea n.º 1), regressando a Tires no dia 24.

Nessa mesma data levantaram voo rumo a Ponta Delgada, nos Açores, ponto de partida para a derradeira etapa da missão. A 1 de outubro descolaram para St. John’s, no Canadá, onde aterraram no próprio dia.

Com este voo, os dois pilotos norte-americanos completaram, com sucesso, a dupla travessia do Atlântico, ligando a América do Norte a Portugal e regressando depois ao continente americano.


Honrar o passado, transformar o futuro

Quando os aviadores Peter Teahen e Ed Galkin aterraram em Tires (Cascais) no dia 19 de setembro de 2025, trouxeram consigo muito mais do que um avião monomotor. Trouxeram uma missão, uma promessa e uma homenagem. Na sua travessia do Atlântico, parte do projeto Circle the Atlantic: Flight to End Polio, ecoa o espírito dos lendários Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que em 1922 realizaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.

“Estamos humildemente conscientes da bravura daqueles homens que, há 103 anos, sonharam alto e enfrentaram condições inimagináveis”, partilhou Peter Teahen. “Eles abriram as portas para todos nós e inspiraram gerações a sonhar e a voar, apesar de todos os desafios.”

Esta homenagem histórica é também um tributo ao serviço rotário. Gago Coutinho foi membro do Rotary Clube de Lisboa, e Peter e Ed, ambos rotários, sentem-se honrados por continuar esse legado. “Em 2023, quando voámos à volta do mundo, pensávamos que estávamos apenas a recolher fundos, mas ao vacinar bebés no Paquistão e ver crianças afetadas pela pólio, percebemos que esta jornada era espiritual. Salvar uma criança e celebrar o último caso de polio no mundo, será a maior recompensa.”

Portugal, ponto de partida e de esperança

Esta é a primeira travessia transatlântica a partir de Ponta Delgada, nos Açores. A escolha não foi apenas estratégica, mas também emocional. “Durante a nossa volta ao mundo em 2023, prometi voltar a Portugal. Não conseguimos incluir o país naquela rota, mas o apoio que recebemos dos rotários portugueses foi tão marcante que senti que lhes devia essa visita”, explicou Peter.

A decisão de iniciar a travessia por Portugal também teve em conta fatores práticos, tais como evitar condições meteorológicas adversas no regresso pelos países nórdicos, mas acima de tudo, foi uma questão de honra e gratidão. “Portugal acreditou em nós quando o resto do mundo estava em silêncio. Embora a missão tenha sido um sucesso, tivemos apenas três angariações de fundos antes da partida: duas em Portugal e uma em New Hampshire. O resto do mundo não respondeu, foi assustador, mas Portugal disse-nos: ‘Nós acreditamos em vós.’”

Durante a estadia, Peter ficou impressionado com algo que considera único: “Há uma paixão pela vida em Portugal que não se encontra noutros países. Uma humanidade vibrante, uma forte ligação com cada pessoa que conhecemos, seja em restaurantes ou ao nível dos clubes rotários.”

Acreditar é voar mais alto

A travessia do Atlântico por Peter e Ed não é apenas uma façanha aeronáutica. É uma poderosa mensagem global: a erradicação da pólio é possível, e está ao alcance de todos nós.

“Começámos por querer angariar fundos”, explica Peter, “mas rapidamente percebemos que o mais importante era despertar consciências. Em partes do mundo como os EUA ou a Europa, muitos já se esqueceram o que é a pólio. Mas quando chegamos ao Paquistão, vemos crianças paralisadas, famílias completamente devastadas. E percebemos que não podemos parar.”

A força desta missão está na história que ela conta. Uma história que toca corações, que mobiliza comunidades, que apela à ação. “O poder de fazer com que os meios de comunicação falem sobre a pólio, que as pessoas conversem sobre este tema, que se entusiasmem com a causa, este é o verdadeiro impacto desta viagem.”

Quando a idade é apenas um número

Ed Galkin, aos 89 anos, tornou-se o piloto mais velho a cruzar o Atlântico. Um feito que, por si só, já seria digno de admiração. Mas para Ed, esta viagem é muito mais do que um recorde, é uma afirmação de vida.

“Tenho confiança na minha capacidade de pilotar”, diz com serenidade. “Não sei quantos anos mais terei para continuar a voar, e a minha esposa Bobby disse: ‘Se queres fazer isto, é agora. Não esperes mais um ano.’ Então decidimos partir.”

A coragem de Ed não vem apenas da experiência acumulada ao longo de décadas. Vem da convicção de que esta missão vale por cada milha percorrida. “Na minha juventude, chamavam à pólio ‘paralisia infantil’. Ver esse sofrimento desaparecer do mundo é o que me motiva. E poder fazer isso ao lado do Peter, que sabe como mobilizar pessoas e fundos, foi impossível dizer não.”

O programa foi organizado pela secção portuguesa do grupo de companheirismo IFFR, em estreita ligação com os Rotary Clubs de Lisboa, Lisboa-Benfica, Cascais-Estoril, Sintra, Vila Franca de Xira, Ponta Delgada e Satellite Club Oeiras-Lean. Incluiu sessões no Museu da Marinha, em Lisboa, no Museu do Ar (BA1 – Sintra), na Universidade Lusófona, em Lisboa, e no Aeroporto Internacional de Ponta Delgada.

Desafios, superação e trabalho em equipa

Voar sobre o Atlântico e num pequeno avião, não é apenas uma questão técnica, é um teste à resiliência humana. “Quando estás sobre o oceano, sabes que não há margem para erro. Se algo correr mal, não há sobrevivência. É intimidante”, confessa Peter.

Na volta ao mundo realizada em 2023, enfrentaram falhas de combustível, problemas elétricos e momentos de silêncio absoluto com o mundo. “Estávamos a 60 milhas do Havai, depois de 18 horas de voo sem comunicações, e ouvimos: ‘Peter, temos um problema.’ Pensámos que íamos cair no mar. Mas descobrimos que era um erro de cálculo. E sobrevivemos.”

A chave? Trabalho em equipa. “John, que fez comigo a volta ao mundo, é o nosso apoio à distância, tem mais de 36 anos de experiência. É meu primo, meu amigo, e conhece o avião como ninguém. A confiança que temos uns nos outros é o que nos mantém seguros.”

Legado e inspiração para o futuro

Em Lisboa, Peter viveu um dos momentos mais emocionantes da viagem. “Um jovem de cerca de 20 anos aproximou-se de nós. Disse que queria ser piloto e que estava inspirado pelos pioneiros de há 102 anos e pelo nosso feito. Tirei o pin da missão e coloquei na sua lapela. Disse-lhe: ‘Quero que isto seja o teu primeiro par de asas.’ Ele chorou, abraçou-nos. Foi um momento que nunca esquecerei.” A mensagem é clara: “Não desistam. O mundo pode ser melhor. E esse mundo inclui os jovens.”

Peter deixa ainda uma mensagem especial aos rotários portugueses: “Continuem a usar o vosso legado para inspirar o mundo. Como me inspiraram a mim.”

E termina com um tributo comovente: “Os verdadeiros heróis são as nossas famílias. Sem o apoio das nossas esposas, das nossas famílias, esta missão não teria sido possível. Atrás de cada explorador, há alguém que ama o suficiente para o deixar partir.”

Um apelo para todos nós

A história de Peter e Ed é um convite à ação e relembra-nos que o serviço rotário não tem idade, fronteiras ou limites. É feito de propósito, de coragem, de compaixão e de crença.

Aos rotários, esta missão recorda o poder de cada gesto, de cada doação, de cada palavra partilhada. Aos não rotários, mostra que qualquer pessoa pode fazer a diferença e com apenas 3 dólares podemos salvar a vida de uma criança.

A todos nós, lembra que acreditar é o primeiro passo para transformar o mundo.

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