Rotary como filosofia de vida: Rui Sequeira

“Sou transmontano, no que tenho muito orgulho e não fiz nada para tal, apenas tive muita sorte.” É desta forma que o ex-governador Rui Sequeira começa a contar a história da sua entrada no mundo do Rotary. Ainda jovem médico, foi convidado por um pai agradecido, por ter tratado a sua filha, a participar numa reunião do Rotary Club de Matosinhos. O ambiente que viveu, as ideias trocadas e o companheirismo conquistaram-no. Pouco depois, em abril de 1966, foi admitido no clube, tendo como padrinho rotário o saudoso companheiro Plácido Sapage.

“O significado profundo da palavra amizade revelou-se num jantar de despedida, em pleno dezembro, sob chuva e frio. Nenhum companheiro faltou.” Este gesto de apoio do clube marcou-o profundamente, quando foi destacado para o Hospital militar de Bissau, no âmbito do serviço militar. Mais tarde, no regresso à vida civil, o Rotary Club de Matosinhos seria um porto seguro, onde foi secretário, presidente e membro de várias comissões.

Medicina e humanidade

A sua carreira como cirurgião levou-o a viver situações de desespero e esperança, combustível para projetos rotários com impacto real. Mesmo durante uma longa permanência em Manchester, manteve-se ligado a Rotary, frequentando reuniões num clube próximo do hospital onde exercia a sua profissão. “Os frutos da medicina serviram-me para partilhar com os meus companheiros e impulsionar várias atividades.”

Rui Sequeira procurou sempre conciliar a vida familiar, profissional e rotária com o apoio constante da família e dos companheiros. Este equilíbrio, necessariamente instável, tornou-se ainda mais desafiante quando foi eleito governador do Distrito 1970, para o ano rotário 1984-1985, após a desistência do companheiro inicialmente designado.

Um novo mundo

O lema “Descubra um Novo Mundo de Serviço”, proposto nesse ano por Carlos Canseco, presidente de Rotary International, parecia adequado quando o mundo vivia uma era de aparente estabilidade, de paz e desenvolvimento. Rui Sequeira anteviu o que viria a seguir: “Se o mundo tivesse encontrado novos mundos de serviço, estaríamos bem melhor e com melhores esperanças para os nossos filhos.” Durante esse ano, partilhou a liderança do Rotary em Portugal com Jaime Buceta, governador do Assembleia Internacional de Rotary em Boca Raton, na Flórida (EUA) e juntos decidiram manter contacto diário para troca de ideias, mesmo sem as facilidades de comunicação atuais, sempre guiados pelo lema: “Entra para aprender e sai para servir.”

“Foi um tempo de fascínio, entusiasmo e esforço, bem à maneira de ser de um transmontano.”

Uma vida de excelência e serviço

A sua carreira profissional decorreu em paralelo com o serviço rotário. Obteve o título de especialista em Cirurgia Geral, doutorou-se em Inglaterra, onde trabalhou como Post-Doctoral Fellow e tornou-se Fellow Honorário do Royal College of Surgeons. Foi no Hospital de Santo António que exerceu maioritariamente a sua profissão, tendo desempenhado a função de chefe de serviço. Também foi Professor Associado de Cirurgia na Universidade do Porto, cargo que ocupou até à idade de reforma.

Com o saber acumulado ao longo dos anos, Rui Sequeira olha para Rotary com espírito crítico e esperança. Reconhece que a organização mudou, embora “nem sempre para melhor”, alertando para a necessidade de recuperar o espírito original: serviço, reflexão e ação comunitária, referindo que “Rotary não é um passatempo, é uma filosofia de vida que sempre nos deve guiar.”

Inspiremos as novas gerações

O ex-governador do Distrito 1970 deixa uma mensagem aos rotários mais jovens: “que se inspirem nos fundadores, na dignidade partilhada e na vontade de transformar o mundo, que não se deixem seduzir apenas pelas conveniências ou pelas redes de contactos, mas sobretudo que vivam Rotary como ele o viveu: intensamente, com propósito e com humanidade.”

“O que Rotary precisa, para encarar o futuro, é retomar completamente o espírito do passado,” porque Rotary é feito de encontros que mudam vidas e de vidas que mudam comunidades.