Carlos Sandoval D., como é conhecido, Curador da The Rotary Foundation (TRF), esteve recentemente em Lisboa, como representante da Presidente do Rotary International na 79ª Conferência do Distrito 1970. Em entrevista exclusiva à revista Rotary Portugal, partilhou uma visão abrangente sobre a missão, os desafios e as prioridades da TRF, revelando também o seu envolvimento pessoal, no âmbito da responsabilidade social corporativa, em projetos humanitários com impacto direto em comunidades da América Latina.
A força de uma Fundação global
A TRF investiu, até hoje, mais de 4 mil milhões de dólares em projetos transformadores e sustentáveis em todo o mundo. Desde o seu início em 1917, com um fundo inicial de 26,5 dólares, a TRF tornou-se um dos maiores veículos filantrópicos globais, ao serviço da paz, da saúde pública e do desenvolvimento sustentável. “A nossa missão continua a ser clara: erradicar a poliomielite, promover a paz, fornecer água potável e educação de qualidade”, afirma Carlos Sandoval, com convicção.
Só no último ano rotário, a nossa Fundação aprovou 1.287 subsídios globais, no valor de 82 milhões de dólares, 485 subsídios distritais, num total de 31 milhões, e 106 subsídios de resposta a desastres, somando 4 milhões de dólares. “Estes números não são apenas estatísticos, representam vidas transformadas, comunidades empoderadas e um futuro mais digno para milhares de pessoas”, sublinha o Curador.
Projetos de maior impacto e desafios emergentes
Entre os projetos de maior impacto promovidos pela TRF, destacam-se as campanhas de vacinação para a erradicação da poliomielite em países endémicos, a instalação de sistemas de purificação de água em regiões vulneráveis e os programas de bolsas de estudo para jovens líderes. “Estamos a investir na mudança estrutural das comunidades. Isso implica ouvir as necessidades locais, envolver os parceiros certos e assegurar a sustentabilidade dos projetos ao longo do tempo”, explica.
Contudo, os desafios são reais e complexos. “A sustentabilidade financeira da Fundação, a adaptação às novas exigências globais e a formação de alianças estratégicas são hoje cruciais para maximizarmos o nosso impacto”, salienta Sandoval.
A recente saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e as mudanças nas políticas da USAID (agência dos Estados Unidos da América para o desenvolvimento internacional) tiveram efeitos diretos no financiamento de programas de saúde. “Isto obrigou-nos a procurar novas fontes de apoio e a consolidar colaborações com outras organizações internacionais”, destaca, defendendo uma cultura rotária de doação mais sólida e regular.
Subsídios Globais e Subsídios de Grande Escala
Nos últimos 10 anos, a adesão e o apoio aos Subsídios Globais cresceram substancialmente, abrindo caminho a iniciativas em saúde, educação e desenvolvimento económico. Um exemplo paradigmático: o primeiro subsídio atribuído a um clube Rotaract, na região industrial de Puebla, no México, que permitirá a construção de consultórios médicos e a aquisição de um veículo de emergência para um Centro de Diagnóstico. “É um sinal claro da confiança da Fundação nas novas gerações e no seu potencial transformador”, assinala Sandoval.
Sobre os Subsídios de Grande Escala, a visão é clara: são desenhados para gerar mudanças duradouras, com impacto mensurável e capacidade de replicação. “A sua sustentabilidade é essencial. Devem estar alinhados com estratégias de governos locais e promover mudanças de mentalidade nas comunidades beneficiadas”, explica. O cofinanciamento por parte de parceiros demonstra o valor das alianças multissetoriais para alcançar metas ambiciosas.
Alianças estratégicas e impacto global
A TRF estabeleceu, ao longo dos anos, parcerias de grande relevância: com a Fundação Bill e Melinda Gates na luta contra a poliomielite; com a Visão Mundial, em projetos de saúde e educação; com a ONU, em iniciativas de desenvolvimento sustentável e promoção da paz; e com a ShelterBox, no apoio a vítimas de desastres naturais. “São colaborações que alavancam os recursos e ampliam o alcance do nosso trabalho”, afirma o curador.
Sandoval mostra otimismo quanto ao cumprimento da meta de 2,025 mil milhões de dólares para o fundo de doação até ao final deste ano rotário. “Estamos a assistir a uma resposta generosa dos rotários, conscientes de que um fundo sólido garante a continuidade e a força dos nossos programas”, afirma.
O futuro: Paz, Educação e Sustentabilidade
Para os próximos anos, a TRF definiu prioridades claras: erradicar definitivamente a poliomielite; expandir os programas de bolsas de estudo, com foco em liderança e desenvolvimento sustentável; promover a paz, através da criação de novos Centros Rotary pela Paz, incluindo um na América Latina; assegurar o acesso à água potável e saneamento básico em regiões carenciadas; e aumentar o fundo de doação.
Além disso, a Fundação pretende incrementar a ação em novas frentes: alterações climáticas, através da promoção de práticas sustentáveis e da redução de emissões; resposta a crises humanitárias, com apoio imediato e programas de reconstrução; e inovação em saúde pública, usando a infraestrutura do programa End Polio Now para enfrentar novas ameaças.
Compromisso pessoal e ação no terreno
Sandoval não se limita ao papel institucional. O seu envolvimento direto em causas sociais é notável. Na Fundação ORSAN, que lidera, desenvolve projetos de microcrédito para mulheres empreendedoras no México, República Dominicana e Colômbia, e promove a reintegração de pessoas com dependências, oferecendo formação em panificação em centros de toxicodependentes anónimos. “São projetos que devolvem dignidade, autoestima e oportunidades a quem delas mais precisa”, afirma.
A Fundação ORSAN apoia ainda programas educativos e de capacitação profissional, iniciativas de sustentabilidade ambiental, doação de cadeiras de rodas e programas para crianças com Síndrome de Down, em parceria com centros especializados. “A responsabilidade social corporativa é uma extensão natural dos valores do Rotary”, sublinha.
Um Centro Rotary pela Paz na América Latina
Uma das metas mais ambiciosas atualmente em curso é a criação de um Centro Rotary pela Paz na América Latina. “O Conselho Curador da TRF reafirmou o compromisso de crescimento dos Centros Rotary pela Paz até 2030”, revela Sandoval. Até 2027, será constituída uma comissão de busca para identificar uma universidade parceira. “Estamos em contacto com várias instituições e contamos com o apoio das lideranças rotárias da região”, adianta.
Este novo centro terá como missão formar líderes comunitários em resolução de conflitos, desenvolver parcerias internacionais e expandir projetos de educação para a paz em vários países da América Latina. “Promover a cultura de paz é promover o desenvolvimento sustentável e a justiça social”, remata.
Com um discurso sereno, mas firme, Carlos Sandoval representa a essência do Rotary moderno: uma liderança global com raízes profundas na ação local. Em Lisboa, deixou uma mensagem clara: “Todos temos um papel na construção de um mundo mais justo. A The Rotary Foundation é o veículo, mas os rotários são o motor da mudança.”