Colégio Helen Keller e Rotary, sete décadas a educar com propósito

Estávamos em 1955, em Lisboa, quando três visionários – Maria Amália Borges, Henrique Moutinho e João dos Santos – ousaram sonhar com algo que, para muitos, parecia inalcançável: criar uma escola onde a inclusão não fosse exceção, mas princípio. Movidos pelo espírito de serviço que define o Rotary, encontraram, no apoio generoso dos membros do Rotary Clube de Lisboa, a força necessária para transformar o sonho em realidade. Assim nasceu o Colégio Helen Keller (CHK), pioneiro em Portugal na integração de alunos com deficiência visual, um marco de coragem e inovação que viria a tornar-se referência nacional na pedagogia inclusiva.

Nos primeiros tempos, a população escolar dividia-se de forma equitativa. Um terço de alunos cegos, um terço de amblíopes e um terço de normovisuais. A convivência, pensada para ser natural, era também profundamente transformadora. Hoje, a maioria dos cerca de 550 alunos – do berçário ao 9.º ano – é normovisual, mas a filosofia fundadora mantém-se intacta. Cada criança, independentemente das suas características, é parte de uma mesma comunidade, acolhedora e solidária.

O ambiente no CHK é familiar, de proximidade e afeto. Não é raro encontrar irmãos que estudam lado a lado, ou filhos e netos de antigos alunos que regressam para perpetuar um laço de gerações. As festas e tradições da escola – o Arraial de final do ano, o Dia da Família, o Dia da Árvore e a Festa de S. Martinho – transformam-se em momentos de reencontro e de celebração da vida. O compromisso do colégio estende-se também à comunidade onde está inserido, através de parcerias com a Junta de Freguesia e instituições locais, sempre com um olhar atento ao apoio social.

Enquanto Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), o CHK orgulha-se da sua equipa multidisciplinar, composta por professores dedicados, psicólogos atentos, técnicos de Braille, terapeutas da fala e ocupacionais, psicomotricistas e especialistas em orientação e mobilidade. Profissionais que, diariamente, constroem um ensino adaptado, humanista e transformador, respeitando o ritmo e as necessidades de cada aluno.

Para além da instrução académica, o CHK é também um viveiro de cidadania, onde se cultivam competências sociais, empatia, respeito e sentido crítico. Valores que dialogam com a filosofia rotária de construir um mundo melhor através da educação. O atual Projeto Educativo 2024/2027, sob o nome AMBIENTARTE, coloca no centro a valorização do meio ambiente, das artes e do bem-estar, promovendo uma escola onde motivação, inovação, equidade, autonomia, tolerância e responsabilidade são pilares que sustentam a preparação dos alunos para um futuro incerto, mas cheio de possibilidades.

Ao longo dos anos, a parceria com o Rotary escreveu capítulos de progresso e inovação. Em 2023, o Rotary Club Lisboa-Belém, em colaboração com o Rotary Club Palma Almudaina (Espanha), angariou fundos para equipar a escola com tecnologia de ponta e materiais para aulas de robótica, abrindo novas janelas para o conhecimento e para a criatividade. Em 2024, com o apoio da Fundação Rotária Portuguesa, nasceu um espaço pedagógico exterior, pensado para aproximar os alunos da natureza e do mundo que os rodeia. E em 2025, chegaram novos recursos essenciais: equipamentos tácteis e digitais para alunos cegos, bem como sessões de leitura inclusiva e ações de sensibilização em escolas públicas, sempre com a participação ativa de rotários.

À medida que o CHK se aproxima do seu 70º aniversário, a escola prepara-se para o celebrar com a dignidade e emoção que a data merece. Uma sessão solene reunirá alunos e antigos alunos, professores, rotários e membros da comunidade, para homenagear o caminho percorrido. Será também lançado um livro que contará, com palavras e imagens, as memórias e conquistas de sete décadas, resgatando histórias e rostos de todos os que ajudaram a moldar esta instituição.

Ao longo desta caminhada, a ligação ao Rotary continuou a fortalecer-se. Hoje, a direção do CHK é maioritariamente composta por membros de clubes rotários do Distrito 1960 – Rotary Club Cascais-EstorilRotary Club de LisboaRotary Club Lisboa-Belém e Rotary Club de Sintra -, incluindo o atual presidente, PGD Alberto Maia e Costa, e outros nomes de peso como o PGD Roberto Carvalho, Gabriela Carvalho, António Nunes e Moisés Anes. Todos trabalham voluntariamente, dedicando tempo e talento, e espelhando os valores rotários de serviço.

O futuro continua a ser pensado com a mesma visão transformadora. Este ano, será lançado um programa de tutoria para jovens com necessidades educativas especiais, desenvolvido com a colaboração de membros de clubes rotários das áreas da educação e da saúde. Um projeto que pretende reforçar a ligação entre a escola e a comunidade rotária, oferecendo acompanhamento personalizado e criando mais oportunidades de desenvolvimento humano e académico.

Sete décadas depois daquele sonho inicial, o Colégio Helen Keller continua a ser um exemplo vivo de como a educação, quando guiada por um propósito e sustentada por parcerias sólidas, é capaz de transformar vidas e comunidades. É a história de uma escola nascida do ideal de serviço, que cresceu com o compromisso de rotários e rotárias que, com dedicação, todos os dias, provam que um futuro mais justo, inclusivo e humano é possível.

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