A Católica Lisbon School of Business and Economics dinamiza, desde 2022, o pacto sobre a Saúde Mental em Ambiente de Trabalho, que já reúne 30 organizações em torno deste tema e foi precisamente nas suas instalações, nos dias 2 e 3 de julho, que aconteceu o Mental Health in the Work Place Summit 2025, para celebrar conquistas, identificar áreas de melhoria e apresentar o Roadmap for Mental Health in the Workplace.
Segundo os organizadores, “mudança e incerteza são hoje uma realidade permanente onde as organizações enfrentam desafios cada vez mais complexos. Neste contexto, é imperativo reconhecer que a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores são pilares fundamentais para a sustentabilidade de qualquer organização pois, por trás de estratégias, números e metas, estão as pessoas.” Reconhecem que “cuidar da saúde mental não é apenas um ato de responsabilidade social; uma decisão estratégica capaz de criar uma vantagem competitiva.” Esta afirmação é sustentada em “vários estudos que demonstram que as organizações que investem de forma consistente no bem-estar psicológico dos seus colaboradores não só promovem uma cultura de cuidado e respeito, como também obtêm benefícios concretos em termos de produtividade, inovação e retenção de talento.”
Frederico Fezas Vital, Diretor Executivo do pacto, é um dos motores desta iniciativa junto das organizações aderentes, mantendo o necessário acompanhamento e dinamismo.
No primeiro dia, o médico psiquiatra Gustavo Jesus, diretor clínico e uma referência nacional na área da saúde mental, falou das relações intergeracionais como um dos principais desafios: “Boomers a zoomers – diferentes cérebros, o mesmo trabalho?”, propondo uma reflexão urgente sobre as diferentes gerações no local de trabalho. Estiveram em foco a “biodiversidade cerebral” e o seu impacto crescente nas organizações e a necessidade dos vários níveis de liderança adquirirem sensibilidade para as questões da saúde mental e para a procura do equilíbrio constante entre o trabalho e a vida pessoal. Referiu que estes cuidados, a par de uma maior flexibilidade, assim como a melhoria das condições de trabalho, contribuem para incrementar a motivação, os resultados e a retenção.
As organizações que fazem parte deste pacto distribuem-se em vários grupos de trabalho e apresentam os seus resultados. O grupo de trabalho de “Autodiagnóstico e Boas Práticas”, liderado pelas Águas de Portugal, construiu uma matriz de autodiagnóstico que permite identificar o posicionamento das organizações e a evolução da cultura organizacional, assim como avaliar a promoção da segurança psicológica, os recursos e apoios disponíveis e o feedback dos colaboradores. A formação de lideranças é um fator crítico de sucesso, assim como a sua humildade para reconhecer quando é necessário pedir ajuda.
João Francisco Lima, empreendedor, autor e agente de mudança, fundador da Mindmatch, onde tecnologia, empatia e sustentabilidade emocional contribuem para transformar a saúde mental num pilar essencial de sucesso e não num luxo reservado a poucos. Esta organização parte de uma experiência pessoal traumatizante do seu fundador, para desenhar uma estrutura de apoio que, a partir do reconhecimento das divergências, permite potenciar o trabalho e o bem-estar das pessoas.
O grupo de trabalho “Saúde Mental nas Empresas: Diagnosticar para transformar”, liderado pela Cofidis, trabalhou metodologias de diagnóstico interno de saúde mental e definiu prioridades e estratégias para a promoção do bem-estar organizacional. Os resultados apontam para a necessidade de criar capacidade para antecipar problemas e passar da reatividade à antecipação, trabalhando nas causas e não nas consequências, olhando a Saúde Mental não como um tabu, mas como uma questão estratégica. Há que integrar este tema num sistema de gestão com métricas, associadas a kpi e em que cada pessoa esteja capacitada para desempenhar o seu papel, parar para pensar e pedir ajuda se necessário. Os líderes precisam perceber o business case, pois, uma cultura de preocupação com os profissionais, com as pessoas, é uma cultura de sucesso. Foi referida a importância de realizar inquéritos psicossociais, por entidade externa, garantindo taxas de participação elevadas.
Mariangel Maldonato, Global Head of Wellbeing da Booking.com, que utiliza uma das estratégias mais inovadoras ao nível corporativo, refere que “o seu propósito é ajudar pessoas e organizações a prosperarem, através da autoconsciência, da liderança compassiva e de práticas baseadas na ciência”. As boas práticas incluem a promoção de uma cultura de abertura, de diálogo e de confiança com as lideranças, que leva os colaboradores a falar sobre o que sentem e assim antecipar problemas, criando condições para encontrar as soluções mais adequadas.
No segundo dia, Tânia Gaspar, Prof. de psicologia e gestão, falou da importância de “Promover ambientes de trabalho saudáveis e sustentáveis”, apresentou evidências, estratégias e boas práticas para criar locais de trabalho que promovem saúde mental, bem-estar sustentável e produtividade a longo prazo, baseando-se na ciência, na psicologia organizacional e em indicadores internacionais atuais. Deixou fortes mensagens: o processo Saúde Mental tem de ter uma abordagem sistémica e estratégica, consistente e com a componente de melhoria contínua; tem que ser um trabalho de equipa para que seja sustentável; deve envolver todas as áreas da organização, onde as lideranças assumem o compromisso da continuidade.
O grupo de trabalho “Da Operacionalização à Medição de Impacto”, liderado por Liliana Dias, Managing Partner da Bound e coorganizadora do evento, teve o desafio de transformar planos em ações reais: como implementar programas de saúde e bem-estar e como medir o seu impacto e ROI (Retorno do Investimento). Os participantes deste grupo deixaram excelentes recomendações: necessidade de construir um diagnóstico para elaborar um plano dinâmico; lideres que dão o seu próprio testemunho, constituindo-se como exemplo; realização de projetos-piloto para avaliar iniciativas e melhorar procedimentos antes de abranger toda a organização; dispor de psicométricas, com indicadores de médio e longo prazo, para avaliação de impacto e dispor de monitorização integrada no processo de melhoria; avaliar o “impacto da saúde mental nos colaboradores e o impacto dos colaboradores na saúde mental”; os resultados devem estar alinhados com o investimento em saúde mental.
Também se deve medir o ROI dos programas de saúde mental nas organizações, conforme recomendação de Anca Corilou da Wellcast ROI Global. Com um conjunto de parâmetros adequado a cada organização, esta medição é recomendada antes e depois da implementação das medidas para avaliar o seu impacto.
O grupo de trabalho “Comunicação, envolvimento e reconhecimento: Falar é o melhor remédio”, liderado pela Auchan, trabalhou dois pilares essenciais para qualquer cultura organizacional saudável: a comunicação enquanto ferramenta de escuta, proximidade e sensibilização e o envolvimento e reconhecimento. A Auchan, com foco na liderança e valorização das pessoas, absorveu recentemente o Minipreço, contou a sua experiência na integração dos colaboradores e chamou a atenção para a coerência entre comunicação interna e externa, quando se trabalha o bem-estar das pessoas. Outros pontos chave referidos: o papel da rede social corporativa como uma peça chave na comunicação entre colaboradores; a motivação e “tratar os outros como gostarias que te tratassem a ti”; a utilização da tecnologia e da IA, que nos deve permitir viver melhor; a análise de vários padrões para evitar problemas, trabalhando na prevenção; capacitar os líderes com ferramentas adequadas e deixarem de ser considerados super-heróis, mostrando as suas próprias vulnerabilidades; integrar a diversidade e criar segurança.
ROADMAP
A culminar esta cimeira, e com base no caminho já percorrido, foi apresentado um Roadmap, elaborado a partir dos contributos das organizações aderentes e dos grupos de trabalho. Trata-se de uma ferramenta de aplicação prática para organizações de todas as dimensões, setores e graus de maturidade, que procuram contribuir para uma gestão ativa e preventiva dos problemas relacionados com saúde mental no trabalho. Embora com características diversas, diferentes dimensões e presença em diferentes geografias, as organizações partilham algo em comum: o potencial para criar ambientes de trabalho mais saudáveis, empáticos e produtivos.
Este Roadmap cumpre o objetivo de oferecer orientação acessível para a criação e implementação de programas estruturados de saúde mental e bem-estar nas organizações e apoiar a reflexão estratégica, identificando novas áreas de intervenção ou medição do impacto, para as organizações que já deram passos decisivos neste tema. Tem uma estrutura adaptável que permite o desenvolvimento de programas estruturados alinhados com realidades e desafios específicos.
As organizações que fazem parte deste pacto disponibilizam um guia, que pode servir de inspiração para construir algo único e transformador em qualquer organização.