O optimista

José Manuel RaposoEnd Polio NowEntrevista1 mês atrás95 Visualizações

À medida que prepara o encerramento da sua fundação, Bill Gates lança os seus maiores planos de sempre.

Em maio, Bill Gates lançou-se num novo e ousado desafio com um prazo exigente: doar praticamente toda a sua fortuna nos próximos 20 anos e encerrar a sua longa atividade filantrópica. A Fundação Gates, parceira do Rotary na Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite, já distribuiu mais de 100 mil milhões de dólares nos seus primeiros 25 anos. Para encerrar totalmente, terá primeiro de acelerar o ritmo, gastando mais do dobro desse valor até 31 de dezembro de 2045.

A poliomielite continua a ser prioridade. Na Convenção Internacional do Rotary de 2025, em Calgary, Alberta, o Rotary e a Fundação Gates anunciaram um compromisso conjunto de até 450 milhões de dólares, nos próximos três anos, para apoiar a erradicação da pólio, renovando assim uma parceria de longa data. O Rotary continuará a angariar 50 milhões de dólares por ano, cada dólar duplicado por dois dólares adicionais da Fundação Gates.

Para compreender melhor a sua decisão, a visão sobre o legado da Fundação e o que está por vir, a Rotary colocou algumas questões a Gates, que celebra este mês 70 anos. Eis as suas respostas.


Ao celebrar os 25 anos da Fundação Gates, do que se orgulha mais?

Nestes 25 anos, testemunhámos e contribuímos para progressos que pareciam impossíveis. Orgulho-me das parcerias que salvaram vidas – da Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite ao Fundo Global de Combate à Sida, Tuberculose e Malária e à Gavi, a Aliança das Vacinas. Graças a estes programas, o custo de vacinas, tratamentos e diagnósticos caiu drasticamente. Já alcançaram 1,1 mil milhões de crianças com vacinas salvadoras, ajudaram a reduzir para metade a mortalidade infantil e salvaram mais de 80 milhões de vidas.

Ao encerrar a fundação nos próximos 20 anos, onde pensa que o impacto será maior?

Apesar do progresso, enfrentamos os ventos contrários mais fortes da nossa história: cortes de dezenas de milhares de milhões em financiamento global para o desenvolvimento. As consequências serão mortais. Precisamos de pessoas comprometidas com o progresso  – como os rotários – para contrariar esses cortes. Vamos acelerar o nosso trabalho em três áreas: reduzir a mortalidade infantil, erradicar doenças infeciosas e tirar milhões da pobreza. A nossa aposta continua a ser na engenhosidade humana – de cientistas, profissionais de saúde, educadores e agricultores.

Como garantir a sustentabilidade?

Sempre quisemos resolver problemas, não geri-los para sempre. Isso significa capacitar as comunidades para enfrentarem os seus desafios. Essa será a nossa prioridade nos próximos 20 anos, contando que os futuros filantropos sigam o mesmo caminho. Apesar das dificuldades, continuo otimista: os últimos 25 anos foram um dos períodos de maior progresso humano da história e acredito que os próximos 20 poderão ser ainda mais transformadores.

Com o aumento de casos de pólio em 2024, o que o mantém otimista?

Estou tão confiante como sempre de que acabaremos com a pólio. O novo nOPV2 já protegeu 1,6 mil milhões de crianças. No Afeganistão e Paquistão, trabalhamos com autoridades locais para ultrapassar obstáculos e chegar a todas as crianças. Apesar dos desafios, a redução de mais de 99% nos casos de pólio no mundo é extraordinária. Com compromisso e colaboração, podemos concluir esta missão.

Como está o programa a adaptar-se à instabilidade política e económica?

O programa tem longa experiência em contextos complexos, sempre próximo das comunidades. No Paquistão, por exemplo, líderes locais substituíram forças de segurança em áreas de conflito, permitindo vacinar com confiança. Continuaremos a adaptar-nos, mantendo o foco no que funciona e usando os recursos onde terão maior impacto.

Qual a maior lição aprendida com a erradicação da pólio?

O progresso depende de colaboração incessante. O sucesso só é possível quando trabalhadores de saúde, governos, parceiros e doadores – incluindo o Rotary – se unem. Recentemente, em Madagáscar, esse esforço conjunto travou um surto de poliovírus. Precisamos desta mesma união em todos os locais onde a pólio ainda resiste.

Que inovações mais o entusiasmam?

Além do nOPV2, investimos em vacinas mais estáveis e na nova vacina hexavalente, que protege contra seis doenças numa só injeção. Senegal e Mauritânia foram os primeiros a introduzi-la em julho, com apoio da Gavi. Estas ferramentas dão aos profissionais de saúde meios mais eficazes para proteger cada criança.

Por que escolheu o Rotary como parceiro?

O Rotary foi o primeiro a sonhar com um mundo sem pólio. Desde 1985, ajudou a vacinar quase 3 mil milhões de crianças e mobilizou governos para financiar a causa. A sua rede global é única para chegar a comunidades remotas. Graças ao Rotary, estamos mais perto do que nunca do nosso objetivo.

Por que prolongar a duplicação 2-por-1 com o Rotary?

Queremos mobilizar 450 milhões de dólares em três anos, garantindo vacinas, resposta a surtos e envolvimento comunitário. É vital concluir a erradicação, pois enquanto houver pólio em qualquer parte, todas as crianças estão em risco.

E sobre a malária?

A parceria com o Rotary tem sido decisiva. Em 25 anos, evitaram-se 2,2 mil milhões de casos e 12,7 milhões de mortes. Pela primeira vez, a erradicação parece possível. O projeto Healthy Communities Challenge forma milhares de agentes comunitários em vários países africanos. São eles que levam cuidados essenciais às populações e que nos ajudarão a vencer esta doença.

Que papel terá a inteligência artificial?

A IA pode ser transformadora, apoiando profissionais de saúde, agricultores e professores. Pode melhorar diagnósticos em clínicas rurais, apoiar pequenos agricultores e personalizar o ensino. Se for usada com equidade, ampliará oportunidades e salvará milhões de vidas.

Conselho para os rotários quanto ao impacto mensurável?

Dados de qualidade são essenciais. Permitem compreender melhor os problemas, orientar recursos e medir resultados. O Rotary deve investir na recolha e uso de dados para aumentar a eficácia dos seus projetos.

Que mensagem deixa aos rotários?

O mais importante: obrigado. A liderança e dedicação do Rotary trouxeram-nos até à beira da erradicação da pólio. Um dia, viveremos num mundo onde todas as crianças estarão livres desta doença. Esperamos alcançar esse marco muito antes de a Fundação Gates encerrar as suas portas em 2045.

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